Do G1 MT
Cuiabá completa 294 anos e conta suas histórias e costumes através das músicas embaladas pelos rasqueados, ritmo genuíno da cidade. As letras e músicas exaltam a infância do cuiabano, da “saudade do seu tempo de menino'' e das brincadeiras da ''gurizada''. O piché, o pacu assado, a mujica de pintado, o furrundu e outras delícias também são lembradas nas letras, permitindo uma viagem de sensações aos ouvintes.
Compositores como Moisés Martins, Pescuma, Roberto Lucialdo, João Eloy, Henrique e Claudinho, Tote Garcia, Edna Vilarinho, Vera e Zuleika, entre outros, se inspiraram em costumes da cuiabania para escrever letras de canções que falam sobre a capital mato-grossense. Uma delas, Piché, é a receita cantada de um tipo de paçoca que virou quase um hino popular de Cuiabá.
''A cultura de Cuiabá é um patrimônio de toda população e não pode ser perdida. Os temas surgem da minha vivência cotidiana e as letras falam por si. Não é preciso muita inspiração para falar de Cuiabá, pois a música e a poesia estão em todos os cantos da cidade '', declarou ao G1 o poeta Moisés Martins, autor de dezenas de músicas que exaltam a cultura cuiabana. Segundo ele, o saudosismo marcante na maioria das músicas expressa um desejo latente da preservação e valorização da cultura regional.
As músicas também falam sobre os becos e vielas da “Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá”, que é “quente pra daná” e com “cheiro de pequizá”. Costumes como “tomar pó de guaraná” e “comer cabeça de boi” ilustram canções bem humoradas sobre a tradição do cuiabano.
E se o calor “tá de matar” é só ''subir pra Chapada'', município banhado por rios e cachoeiras a 65 quilômetros de Cuiabá. Os municípios próximos à capital se tornam parte dela, e as músicas também fazem os cuiabanos se lembrarem de “[Santo Antônio de] Leverger, onde se vive a vida” e do distrito de Nossa Senhora da Guia.
Confira abaixo as letras e trechos de algumas dessas músicas:
Cuiabá, Cuiabá (Henrique e Claudinho)
Tem São Gonçalo, Cururu e Siriri
Cuiabá, Cuiabá
Do Coxipó do Ouro, da manga e do pequi
Da Lixeira e do Jardim Araçá
São Benedito, parque da exposição
Beco do Candeeiro, Panacéia e Choppão
No CPA, onde a noite a gente vara
da velha Prainha e Maria Taquara
Cuiabá, Cuiabá
Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá
Tem Jejé, samba na avenida, mas em Leverger é que se vive a vida.
Cabeça de boi (Henrique, Claudinho e Pescuma)
“Oh Cuiabá, Cidade Verde, ai, ai, ai
com cheiro de pequizá, ai, ai, ai
Vou comer pacu assado, tomar pó de guaraná
Vou comer pacu assado, tomar pó de guaraná
Meu amor brigou comigo, ai, ai, ai
Eu não sei onde ela foi, ai, ai, ai
Só sei que eu vou lá pra Guia, comer cabeça de boi
Só sei que eu vou lá pra Guia, comer cabeça de boi.
Casa de bem-bem (Vera e Zuleica)
Eu tenho orgulho de ser um cuiabano
De tchapa e cruz com fé senão me engano
Moro na pracinha, ao lado da Prainha
Sento na praça para ver as moreninhas
Gosto de amargo, ventrecha de pacu
mojica de pintado e bagre ensopado
Danço rasqueado na casa de bem-bem
como bolo de arroz e de queijo também.
Piché (Moisés Martins)
“Milho torradinho socado, canela açucarada
a branca pura daquela gurizada
Do tempo do Campo D´Ourique,
Quando a pandorga, o finca-finca
o buscapé e o trique-trique
pintavam o céu com pingos de luz
É tempo bom que não volta mais
Só na lembrança de quem foi menino,
Hoje é rapaz.
Milho torrado, bem socadinho
Ah, que saudade do meu tempo de menino
Um dia ainda verei eu tenho fé
Meu neto, meu neto
Com a boca toda suja de piché'
Furrundu (Moisés Martins)
''Furrundu, doce do pau
do pau de mamoeiro,
até parece com uma dança, mas é só doce caseiro''.
Sol tá quente pra daná (Moisés Martins)
“O sol tá quente prá daná; tá, tá, tá, tá.
O calor tá de matá; tá, tá, tá.
Prá refrescá, oi,
Prá refrescá, oi.
Vou me banhá nas águas do Cuiabá.
Quando mergulho nestas águas,
Sinto o corpo arrepiar,
Lembro das belas viagens,
Que eu fiz a Corumbá.
Das chalanas preguiçosas,
Regiões do pantanal,
Do doce beijo das águas,
Cuiabá e Paraguai
Dourado peixe,
Peixe dourado,
Vai dizer prá natureza,
Devolver o meu passado”.
Tipos populares (Pescuma)
Toda cidade tem seus tipos,
Cuiabá também, os tem.
Uma cidade sem eles,
Vive cheia de ninguém
A cidade vive dos que vivem nela,
Já dizia o grande locutor.
Sem eles qualquer cidade,
Seria um jardim faltando flor.
Tipos populares boêmios sem fim.
Nos bares, becos esquinas
Vivem felizes, sim!
Viva cobra fumano,
Maria Peta, Zé Bolo Flô.
Em cada esquina uma saudade.
Em cada canto uma canção de amor.
Cidade Verde dos meus amores (Moisés Martins)
Cidade Verde dos meus amores
Cidade de grata memória,
página heróica da nossa história.
Casarões, igrejas, palmeiras imperiais.
Cidade verde, como mudou,
de belo que tinha pouco ficou.
Cidade verde dos mangueirais,
Cidade verde da esperança,
do meu texto de criança,
que não volta mais.
Das pescarias lá da Prainha,
Festa de santo, das ladainhas,
bola de meia, quitutes de fundos de quintais.
Cidade verde dos meus amores.
Tanque do Baú, Rua das Flores,
passear no jardim,
quando o jardim era dos amores!
Rasqueado do pau rodado (Pescuma e Pineto)
Não aguento mais ser chamado de pau rodado
Já tomo licor de pequi, já danço o Siriri
Como bagre ensopado
Sou devoto de São Benedito
Até já danço o rasqueado
Sou devoto de São Benedito
Até já danço o rasqueado
Adoro banho de rio, vou direto pra Chapada
Na noite cuiabana tomo todas bem gelada
Sou viciado no bozó, pescaria e cururu
Tomo pinga com amargo
Como cabeça de pau
Eá, Eá, Eá, só não nasci em Cuiabá
Mas no que eu cresci
Meu bom Jesus mandou buscar.
Cadê meus becos (Moisés Martins)
Cadê meus becos?
Em cada esquina um chinfrim
Em cada bolicho um bêbado alegre,
Trançando as pernas, ansim, ansim!
Beco sem um cara chamado Chico
Sem moagem, sem fuchico
Sem vira-lata que late,
Sem biscate sem donzela
namorando na janela,
sem feijoada na panela,
Sem carrinho de peixeiro
Sem o grito o grito do padeiro,
Sem pagode, sem rasqueado
Não é beco, não!
Onde andam os meus becos?
Do sovaco, quente, torto,
Urubu, São Gonçalo, Candeeiro!
Cadê meus becos?
Entre prédios e arranha-céus, abafados.
Morrendo sem alento...
Levando tudo o que Deus me deu,
Sepultado pelo tempo
Compositores como Moisés Martins, Pescuma, Roberto Lucialdo, João Eloy, Henrique e Claudinho, Tote Garcia, Edna Vilarinho, Vera e Zuleika, entre outros, se inspiraram em costumes da cuiabania para escrever letras de canções que falam sobre a capital mato-grossense. Uma delas, Piché, é a receita cantada de um tipo de paçoca que virou quase um hino popular de Cuiabá.
''A cultura de Cuiabá é um patrimônio de toda população e não pode ser perdida. Os temas surgem da minha vivência cotidiana e as letras falam por si. Não é preciso muita inspiração para falar de Cuiabá, pois a música e a poesia estão em todos os cantos da cidade '', declarou ao G1 o poeta Moisés Martins, autor de dezenas de músicas que exaltam a cultura cuiabana. Segundo ele, o saudosismo marcante na maioria das músicas expressa um desejo latente da preservação e valorização da cultura regional.
As músicas também falam sobre os becos e vielas da “Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá”, que é “quente pra daná” e com “cheiro de pequizá”. Costumes como “tomar pó de guaraná” e “comer cabeça de boi” ilustram canções bem humoradas sobre a tradição do cuiabano.
E se o calor “tá de matar” é só ''subir pra Chapada'', município banhado por rios e cachoeiras a 65 quilômetros de Cuiabá. Os municípios próximos à capital se tornam parte dela, e as músicas também fazem os cuiabanos se lembrarem de “[Santo Antônio de] Leverger, onde se vive a vida” e do distrito de Nossa Senhora da Guia.
Confira abaixo as letras e trechos de algumas dessas músicas:
Cuiabá, Cuiabá (Henrique e Claudinho)
Tem São Gonçalo, Cururu e Siriri
Cuiabá, Cuiabá
Do Coxipó do Ouro, da manga e do pequi
Da Lixeira e do Jardim Araçá
São Benedito, parque da exposição
Beco do Candeeiro, Panacéia e Choppão
No CPA, onde a noite a gente vara
da velha Prainha e Maria Taquara
Cuiabá, Cuiabá
Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá
Tem Jejé, samba na avenida, mas em Leverger é que se vive a vida.
Cabeça de boi (Henrique, Claudinho e Pescuma)
“Oh Cuiabá, Cidade Verde, ai, ai, ai
com cheiro de pequizá, ai, ai, ai
Vou comer pacu assado, tomar pó de guaraná
Vou comer pacu assado, tomar pó de guaraná
Meu amor brigou comigo, ai, ai, ai
Eu não sei onde ela foi, ai, ai, ai
Só sei que eu vou lá pra Guia, comer cabeça de boi
Só sei que eu vou lá pra Guia, comer cabeça de boi.
Casa de bem-bem (Vera e Zuleica)
Eu tenho orgulho de ser um cuiabano
De tchapa e cruz com fé senão me engano
Moro na pracinha, ao lado da Prainha
Sento na praça para ver as moreninhas
Gosto de amargo, ventrecha de pacu
mojica de pintado e bagre ensopado
Danço rasqueado na casa de bem-bem
como bolo de arroz e de queijo também.
Piché (Moisés Martins)
“Milho torradinho socado, canela açucarada
a branca pura daquela gurizada
Do tempo do Campo D´Ourique,
Quando a pandorga, o finca-finca
o buscapé e o trique-trique
pintavam o céu com pingos de luz
É tempo bom que não volta mais
Só na lembrança de quem foi menino,
Hoje é rapaz.
Milho torrado, bem socadinho
Ah, que saudade do meu tempo de menino
Um dia ainda verei eu tenho fé
Meu neto, meu neto
Com a boca toda suja de piché'
Furrundu (Moisés Martins)
''Furrundu, doce do pau
do pau de mamoeiro,
até parece com uma dança, mas é só doce caseiro''.
Sol tá quente pra daná (Moisés Martins)
“O sol tá quente prá daná; tá, tá, tá, tá.
O calor tá de matá; tá, tá, tá.
Prá refrescá, oi,
Prá refrescá, oi.
Vou me banhá nas águas do Cuiabá.
Quando mergulho nestas águas,
Sinto o corpo arrepiar,
Lembro das belas viagens,
Que eu fiz a Corumbá.
Das chalanas preguiçosas,
Regiões do pantanal,
Do doce beijo das águas,
Cuiabá e Paraguai
Dourado peixe,
Peixe dourado,
Vai dizer prá natureza,
Devolver o meu passado”.
Tipos populares (Pescuma)
Toda cidade tem seus tipos,
Cuiabá também, os tem.
Uma cidade sem eles,
Vive cheia de ninguém
A cidade vive dos que vivem nela,
Já dizia o grande locutor.
Sem eles qualquer cidade,
Seria um jardim faltando flor.
Tipos populares boêmios sem fim.
Nos bares, becos esquinas
Vivem felizes, sim!
Viva cobra fumano,
Maria Peta, Zé Bolo Flô.
Em cada esquina uma saudade.
Em cada canto uma canção de amor.
Cidade Verde dos meus amores (Moisés Martins)
Cidade Verde dos meus amores
Cidade de grata memória,
página heróica da nossa história.
Casarões, igrejas, palmeiras imperiais.
Cidade verde, como mudou,
de belo que tinha pouco ficou.
Cidade verde dos mangueirais,
Cidade verde da esperança,
do meu texto de criança,
que não volta mais.
Das pescarias lá da Prainha,
Festa de santo, das ladainhas,
bola de meia, quitutes de fundos de quintais.
Cidade verde dos meus amores.
Tanque do Baú, Rua das Flores,
passear no jardim,
quando o jardim era dos amores!
Rasqueado do pau rodado (Pescuma e Pineto)
Não aguento mais ser chamado de pau rodado
Já tomo licor de pequi, já danço o Siriri
Como bagre ensopado
Sou devoto de São Benedito
Até já danço o rasqueado
Sou devoto de São Benedito
Até já danço o rasqueado
Adoro banho de rio, vou direto pra Chapada
Na noite cuiabana tomo todas bem gelada
Sou viciado no bozó, pescaria e cururu
Tomo pinga com amargo
Como cabeça de pau
Eá, Eá, Eá, só não nasci em Cuiabá
Mas no que eu cresci
Meu bom Jesus mandou buscar.
Cadê meus becos (Moisés Martins)
Cadê meus becos?
Em cada esquina um chinfrim
Em cada bolicho um bêbado alegre,
Trançando as pernas, ansim, ansim!
Beco sem um cara chamado Chico
Sem moagem, sem fuchico
Sem vira-lata que late,
Sem biscate sem donzela
namorando na janela,
sem feijoada na panela,
Sem carrinho de peixeiro
Sem o grito o grito do padeiro,
Sem pagode, sem rasqueado
Não é beco, não!
Onde andam os meus becos?
Do sovaco, quente, torto,
Urubu, São Gonçalo, Candeeiro!
Cadê meus becos?
Entre prédios e arranha-céus, abafados.
Morrendo sem alento...
Levando tudo o que Deus me deu,
Sepultado pelo tempo
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